quinta-feira, 16 de junho de 2011

Cadeia de doentes

De repente senti uma súbita vontade de tê-la deslizando por entre meus dedos outra vez. A saudade bateu fortemente, me fazendo reviver as memórias das noites mal dormidas que tive pela sua presença em meu corpo. Os dias viravam noites em questão de segundos, como se o mundo fosse feito apenas da escuridão que nos envolvia. Ainda posso sentir meu corpo dormente e seu gosto em meus lábios junto à dificuldade para respirar a cada vez que enrolada, alinhava cada parte de ti para enfim te sentir outra vez em meu interior. O modo como mexe com o meu pensamento instantaneamente, fazendo-me questionar coisas que meu consciente jamais cogitou. Momentos depois você parte sem avisar, deixando apenas a sensação de vazio, como se eu precisasse de mais uma dose de você. Novamente nos tornamos um só, na tentativa de satisfazer e preencher o buraco que há em mim. Um vazio que só você pode completar. Nessa loucura incessante de tê-la, torno-me totalmente dependente de você, como se cada fragmento seu se alojasse em uma parte do meu cérebro e corresse por todas as minhas veias, levando fatalmente ao meu coração. Sinto saudade dos encontros ao anoitecer, da adrenalina e do perigo que corríamos. Luzes vermelhas rodeavam os quarteirões afim de nos separar brutalmente. O cheiro da grama úmida unificando-se ao seu cheiro, saboreio-te enquanto lentamente a seguro em minhas mãos. Meus olhos cintilam ao tocá-la, aspiro-a, buscando por prazer, buscando uma satisfação que nunca chega, desejando-te cada vez mais. Sinto falta das madrugadas frias onde meu corpo sobrepõe o seu tentando guardá-la só para mim. Passamos mais uma noite em claro, meu corpo cansado ainda formigando não responde mais aos comandos, minhas pupilas dilatas me impedem de dormir. O amanhecer chega e eu ainda estou pensando em você, minha consciência dói, mas ainda desejo pelo próximo encontro. Ao entardecer um vendaval nos atinge profundamente, levantando toda a poeira escondida. É a última vez que eu a tenho. Lágrimas e dor compõem o cenário de despedida. Dolorosamente a deixo ir, sabendo que me renderia no próximo encontro. Olhares de julgamento são lançados sobre nós. Ninguém é capaz de compreender a conexão que temos. Os dias passaram até tornarem-se meses. Foi uma difícil luta contra o desejo de tê-la outra vez, sentia como se eu estivesse em um campo de batalha completamente só e, em um momento insano tivesse atirado contra o meu reflexo em um espelho, afim de acabar com a abstinência em que eu me encontrava. Desejei-te com tanta intensidade no período em que estivemos distantes que me questionei sobre como uma paixão momentânea fora capaz de me assolar durante tantos meses. O tempo parecia correr em uma ampulheta, onde cada pequeno grão de areia demora a cair, tornando assim a minha busca por uma cura em um processo infinito. Sinto saudade das sensações que me proporcionava, de como eu me sentia quando a tinha comigo. Era um misto de loucura com uma realidade dura. Sinto falta de andar como se estivesse correndo e depois deitar na grama e olhar para um céu estrelado e pensar o que eu estava fazendo da minha vida e no que eu havia me transformado. Senti muita falta durante todo o tempo e eu sei que não estamos imunes a nos apaixonarmos novamente. Mas há algo do qual tenho certeza. Seremos um só outra vez. Quando meu corpo não possuir mais funções será reduzido às cinzas e então compartilharemos dos mesmos aspectos. Tudo o que restará. Tudo o que nos tornaremos. Será pó. Somente pó.

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